Hipertensão arterial de difícil controle
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença bastante conhecida e comum de ser diagnosticada. Ao contrário do que muitos pensam, é uma condição crônica e assintomática na maioria das vezes. Quando não é diagnosticada corretamente ou tratada de forma adequada, aumentamos o risco de desenvolver outros problemas que podem afetar cérebro, rins e coração como por exemplo acidente vascular cerebral, insuficiência renal e insuficiência cardíaca. Um dos pilares do tratamento é o uso de medicamentos anti-hipertensivos. Isso claro além das recomendações que chamamos não farmacológicas, como dieta com pouco sal, controle do peso e atividade física. Porém entre 10 e 20% dos pacientes com HAS podem ter dificuldades para o controle da pressão arterial mesmo com uso de múltiplos anti-hipertensivos e usamos o termo hipertensão arterial resistente para nos referir a esse problema.
A hipertensão arterial resistente precisa de uma avaliação focada em cada paciente. Uso de outras medicações associadas como anti-inflamatórios ou uso incorreto e irregular da prescrição devem ser minuciosamente abordados. Além disso, é importante aqui diferenciar aqueles pacientes que mantem medidas elevadas somente quando estão no consultório na presença do médico. Chamamos isso de “efeito do jaleco branco” ou “avental branco” (dependendo da região do país). Para sabermos isso é preciso realizar um exame capaz de verificar medidas fora do consultório. O mais conhecido é a monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) onde coloca-se um aparelho no braço ligado a um dispositivo eletrônico fixado na cintura, e dessa forma serão registradas medidas durante 24 horas. Como alternativa, podemos usar a monitorização residencial da pressão arterial (MRPA) com aparelhos validados, ou até mesmo o registro da automedida, quando o paciente afere e anota a pressão arterial com aparelhos de uso doméstico. A MAPA de 24 horas tem a vantagem de fazer registros noturnos, durante o sono, o que tem um grande valor para avaliarmos melhor o padrão de hipertensão e sua gravidade.
Quando confirmamos que a hipertensão arterial não está respondendo ao tratamento de forma adequada (após todas essas etapas) devemos avaliar outras possibilidades diagnósticas. Existem doenças, em geral raras, que podem causar hipertensão arterial de difícil controle, e, portanto, seriam causas de hipertensão “secundária”. A investigação dessas causas pode ser trabalhosa, muitas vezes confusa e até mesmo errônea, devendo ser conduzidas por especialistas, e somente em casos selecionados.
A boa notícia é que na maioria dos casos não há causas secundárias subjacentes. A notícia não tão boa é que o tratamento adequado exige dedicação de todos envolvidos incluindo médico e paciente, exigindo visitas mais frequentes, atenção redobradas sobre os hábitos de vida e uso correto da medicação. Tudo isso para que o objetivo do controle possa ser alcançado. [1-3]
- Muxfeldt, E.S., F. de Souza, and G.F. Salles, Resistant hypertension: a practical clinical approach. J Hum Hypertens, 2013. 27(11): p. 657-62.
- de Souza, F., E.S. Muxfeldt, and G.F. Salles, Prognostic factors in resistant hypertension: implications for cardiovascular risk stratification and therapeutic management. Expert Rev Cardiovasc Ther, 2012. 10(6): p. 735-45.
- de Souza, F., et al., Efficacy of spironolactone therapy in patients with true resistant hypertension. Hypertension, 2010. 55(1): p. 147-52.