14 nov 22

Risco cirúrgico, do que se trata?

Realizar o exame de “risco cirúrgico” consiste na avaliação clínica em geral realizada pelo clínico ou pelo cardiologista no período que antecede a cirurgia (pré-operatório). Em geral, é realizada de forma eletiva, antes de cirurgias também eletivas.  É uma etapa muito importante na programação da cirurgia e serve principalmente para reduzir as chances de complicações cardíacas que podem ocorrer no período que compreende desde a internação para realização do procedimento até 30 dias após (também chamado de período perioperatório).

Alguns exames sempre são solicitados como hemograma, glicose, avaliação da função renal e eletrocardiograma. No entanto, diferente do que muitos pensam, os exames não são tão importantes como o histórico de cada paciente e o exame físico realizados preferencialmente antes da solicitação desses exames. Pacientes jovens, sem doença cardíaca e que serão submetidos por exemplo a procedimentos mais simples (curta duração e com baixo risco de sangramento) em geral vão se beneficiar muito pouco desses exames e eles acabam sendo realizados como uma rotina para que os anestesiologistas tenham parâmetros de acompanhamento. As probabilidades de complicações cardíacas nesse caso são muito baixas. Por outro lado, pacientes mais idosos ou que tem uma baixa capacidade funcional (baixa tolerância para esforço físico) e que serão submetidos a procedimentos mais complexos (por exemplo cirurgias vasculares, abdominais ou ortopédicas para implante de próteses) deverão ser avaliados com maior cautela e pode ser necessário a realização de algum outro exame para podermos “medir” ou estimar melhor o risco de complicações e dessa forma tomar as medidas de prevenção adequadas em cada caso.  Existem várias informações pertinentes para serem coletadas e avaliadas na determinação do risco cirúrgico, mas, o que pouco se fala é que a comunicação entre cardiologista, anestesiologista e cirurgião constitui um elo fundamental para o melhor planejamento e tomadas de decisões assertivas, sobretudo para pacientes classificados com alto risco de complicações.

Quando se trata de cirurgia de urgência a avaliação cardiológica também será importante, no entanto, poderá ser feita no ambiente hospitalar com o objetivo de discutir com o anestesiologista e dentro de tempo hábil tomar as medidas necessárias para reduzir as chances de complicações.

Não foi meu objetivo aqui trazer informações técnicas, mas sim um esclarecimento sobre esse tema. De qualquer forma a Sociedade Brasileira de Cardiologia[1] assim como a sociedade americana e europeia, possuem documentos publicados que são revistos periodicamente trazendo todas as informações e recomendações necessárias a respeito desse tema [2, 3].

  1. Gualandro, D.M., et al., 3rd Guideline for Perioperative Cardiovascular Evaluation of the Brazilian Society of Cardiology. Arq Bras Cardiol, 2017. 109(3 Supl 1): p. 1-104.
  2. Halvorsen, S., et al., 2022 ESC Guidelines on cardiovascular assessment and management of patients undergoing non-cardiac surgery. Eur Heart J, 2022. 43(39): p. 3826-3924.
  3. Fleisher, L.A., et al., 2014 ACC/AHA guideline on perioperative cardiovascular evaluation and management of patients undergoing noncardiac surgery: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation, 2014. 130(24): p. e278-333.